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EU E O TRABALHO

          Do trabalho ninguém pode fugir, seja funcionário, empreendedor, dona de casa ou desempregado. Como a fé em Cristo pode ser decisiva para que a nossa vida profissional se torne mais apaixonante e mais interessante? Como a fé em Cristo nos ajuda a crescer no trabalho?

 

Quinta-Feira, 23 de Junho 2016, 20horas

Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 402/208 – Rio de Janeiro

Palestrante: Bernhard Scholz, Presidente Companhia das Obras

Moderador: Felice Mimmi

 

               Felice Mimmi: Eu e o trabalho, o título vem de uma extraordinária ideia do Adriano e hoje teremos a possibilidade de discutir sobre o tema com Bernhard Scholz, presidente da Companhia da Obras, que está no Brasil em ocasião do VI fórum nacional da Companhia das Obras. Estamos vivendo tempos difíceis: alguns estão desempregados mas mesmo para quem não está, quem trabalha em empresa ou em casa, não está sendo fácil. Por um lado as empresas estão com dificuldade – é difícil fechar o ano, é difícil trabalhar – por outro, nossa vida é uma correria danada, fazemos muitas coisas, temos um dia cheio e muitas vezes vamos dormir insatisfeitos. Até parece que a vida vai nos levando e no fim das contas é como se faltasse um pouco do gosto pelo viver. Sendo que um dos lugares onde isso se torna mais evidente é no trabalho e na vida profissional, gostaríamos de perguntar para Bernhard: como é que o nosso eu pode voltar a ser protagonista do nosso cotidiano? É a fé em Cristo um ponto decisivo pra sermos protagonistas, para que o trabalho e as coisas do dia a dia sejam mais interessantes? Como a fé desperta uma nova inteligência na hora de enfrentar uma crise como a que estamos passando?

 

               Bernhard Scholz: boa noite, sinto muito mas não falo a vossa língua. Evidentemente esta temática é gigantesca e portanto, gostaria de contar alguns aspectos que descobri. Concluídos meus estudos eu queria ser jornalista para poder ficar na janela da vida, queria observar, analisar e avaliar, não pensava em me tornar protagonista de algo, a não ser um protagonista da observação. Depois, certo dia, um amigo me chamou para me dizer que ele não poderia administrar um curso para managers e pediu para que eu o substituísse. Ele me entregou o material e de noite parti de trem para que no dia seguinte eu pudesse me encontrar com estes managers. Durante a noite estudei o material e o curso foi positivo, não estava de acordo com muita parte do conteúdo, o mudei um pouco mas, no final, o curso foi positivo. Sucessivamente, no diálogo, descobri que esta seria uma temática à qual poderia me interessar e, já que faziam muitos anos que estava realizado um jornalismo bem específico, o eclesial, tinha o desejo de fazer algo diferente. Eu só havia feito jornalismo eclesial porque haviam me pedido, eu nunca o teria feito de minha iniciativa e portanto, depois de alguns anos, eu realmente queria mudar. Foi nesta ocasião que descobri a existência de algo novo, algo que eu nunca teria imaginado pudesse me interessar e então mudei de trabalho, continuei escrevendo artigos mas, na substância, havia mudado de trabalho. Em seguida comecei a trabalhar como formador de managers e também com consultor na Itália, porque na época eu morava na Alemanha. Comecei trabalhando com grandes empresas mas depois encontrei as pequenas e com elas surgiu a oportunidade fazer cursos noturnos para estes empreendedores que havia encontrado e que nunca saíam das próprias empresas durante o dia pois, para eles, estar nas próprias empresas era o mais importante. Enfim comecei uma escola de empresas voltada para estes empreendedores e, basicamente, é o trabalho que faço até hoje.

               Por que contei este breve percurso? Por que cada um de nós começa com uma ideia, com um desejo de fazer algo mas, cedo ou tarde, acaba se chocando com a realidade. É realmente difícil encontrarmos o trabalho que de fato gostamos e, quando o encontramos, acontece que, depois de um tempo, já não gostamos mais como antigamente. Porém, sempre fica o desejo de fazer algo que seja belo, algo que seja útil e então, com o tempo, uma pessoa entende que o problema do trabalho não é o prazer mas sim a satisfação: o prazer não é um critério, é o começo de uma hipótese mas não é o critério definitivo. O trabalho que eu faço, mesmo não sendo exatamente aquilo que eu imaginava, faz com que eu consiga sempre descobrir algo de importante, tanto sobre a realidade quanto sobre mim. Posso dizer que o trabalho sempre é uma descoberta! Por exemplo, quando eu era jornalista e fazia entrevistas percebi que depois da quinta, o fazer entrevistas tinha se tornado um pouco chato, isso porém mudou quando aprendi a me concentrar não apenas no conteúdo, mas principalmente na pessoa. Se se olha para a pessoa sempre há algo interessante, porque sempre se descobre algo novo mesmo se isso, as vezes, é muito trabalhoso, Papa Francisco nos disse recentemente que escutar pode ser um martírio! Na minha experiência aprendi que escutando, me concentrando sobre a pessoa, se descobre algo da pessoa e algo sobre você, mesmo que isso custe um certo trabalho e este é apenas um exemplo. Além disso, quando eu estudava e tinha que trabalhar para pagar os estudos, em uma destas ocasiões de trabalho me lembro ter passado três meses montando lâmpadas, passava o dia inteiro apenas montando lâmpadas, sempre as mesmas lâmpadas: neon! No porão de um estádio. Três meses. Cada dia lâmpadas e mais lâmpadas; e tem gente que faz isso a vida inteira! Mas foi durante este período, no qual fiz uma coisa que não gostava nem um pouco, que eu aprendi muito e também mudei muito; aprendi por exemplo a paciência, a perseverança e a atenção ao detalhe quando se está muito cansado, pois meus braços doíam de tanto montar lâmpadas. O trabalho, portanto, te coloca em relacionamento com a realidade e se cada um de nós não se posicionar de forma contrária, este relacionamento com a realidade assim como ela é sempre vai te fazer crescer. Não depende tanto do trabalho que uma pessoa faz, mas apenas da modalidade com a qual cada um trabalha. Na minha vida conheci pessoas que trabalhavam no setor da moda, da moda de luxo: Versace, Armani, coisa que para um garoto pode parecer o fim do mundo: pessoas importantes, a moda, o luxo, o marketing, a comunicação... mas foi neste contexto que eu conheci pessoas entediadas como nunca havia conhecido antes. Ou seja, a questão não é tanto aquilo que uma pessoa faz, mas sim como ela se coloca em ação diante aquilo que ela faz. Podemos ir para o trabalho e, dia após dia, simplesmente aguentar o que acontece ou podemos ir trabalhar com um mínimo de abertura. Esta postura também é o que muda o relacionamento com as pessoas, que é um dos aspectos mais importantes no trabalho. Mas o que a fé tem a ver com tudo isso? A fé tem a ver porque o trabalho te obriga às perguntas: quem é você? Você é aquilo que consegue fazer, o sucesso que consegue obter? Você é aquilo que os outros pensam de você? Você é identificado pelo seu trabalho? O que te defini quando você trabalha? Todas estas perguntas têm a ver com você! E o outro aspecto é: mas aquela realidade que você tem diante é uma alienação ou é algo que te faz crescer? Quando eu tinha cerca de dezoito anos estava profundamente convencido de que a realidade, e principalmente a vivência com os outros, fosse uma grande alienação. Para dar uma ideia, a minha pequena tese para o fim do segundo gral foi sobre Sartre e seu livro “O inferno são os outros”. Eu portanto entendo até o fundo a tentação do individualismo, de se fechar; e se hoje eu digo que os relacionamentos são fundamentais é porque de fato o descobri, e não porque me disseram. Não é uma questão de temperamento; é claro, o brasileiro vive os relacionamentos de uma forma diferente da de um finlandês, um alemão diferente da de um italiano, mas não isso é apenas uma questão de expressividade, o que eu estou dizendo é uma questão substancial, tem a ver com o fato de reconhecer que o outro tem um valor ou não. Estas coisas têm a ver com a colaboração, mas o que a fé te diz a respeito? A fé diz que a realidade na sua frente te é dada, não é obra do acaso, tem um sentido para você. Pode ser que você não consiga enxergar o sentido, que pareça tudo contrário, porém, já que te é dado, cada um é convidado a descobrir este sentido. Digo por experiência própria que esta passagem é muito importante pois só o que descobrimos com uma certa fadiga é de fato nosso. Deus não zomba de nós quando nos apresenta uma realidade que parece não nos corresponder, Ele está apenas nos dando uma oportunidade para que possamos descobrir a nós mesmos e aos outros que estão ao nosso redor. Esta é uma promessa! É portanto com o tempo que eu descubro o significado da minha vida e dos relacionamentos que me são dados, mas, para que isso tudo possa ser, de fato, uma descoberta não se deve censurar nada. Não devo censurar os problemas que existem e sequer fingir que não existam pois eles existem. Devo ao invés me perguntar o que existe dentro deles. Isso se aplica a qualquer tipo de relacionamento e também na especificidade do meu trabalho. É justamente a especificidade do meu trabalho, daquilo que eu faço que, vivido através da fé, me levou a descobrir a natureza das coisas. Este é um dos vários exemplos que posso fazer. Sendo que se relacionar entre pessoas, pela diversidade que somos, não é simples, e sendo que isso sempre implica um empenho pessoal, existem muitas teorias de management que teorizam o estabelecimento de regras que evitam o impacto pessoal e buscam um mundo de trabalho onde ninguém precise ser protagonista. Pessoalmente acredito que isso seja impossível e portanto, uma grande parte do meu trabalho consiste na procura de um método que favoreça um estar juntos que permita exaltar as potencialidades de cada um mas no curso que estudei a noite no trem dizia-se o contrário. Eu não fiz uma revolução, mas para mim o desafio foi o de dizer que a pessoa é uma outra coisa, e depois, aos poucos comecei a estudar e aperfeiçoar esta abordagem. Estas coisas têm a ver com cada um de nós, seja ele médico, secretária, ou recepcionista pois, no próprio trabalho, cada um se depara com situações que não correspondem à natureza das coisas, que não correspondem ao modelo de vida que se deseja. Eu nunca encontrei uma pessoa que me dissesse: aquilo que eu faço corresponde completamente com aquilo que eu desejo! Existe sempre um desafio humano e profissional de tentar transformar as coisas em algo mais correspondente ao humano. Mas para que esta mudança possa ocorrer é muito importante não começar por uma pretensão mas sim por uma pergunta. A pretensão que tudo deve mudar, a pretensão de que eu sei tudo e os outros só precisam me seguir, ou ainda, a pretensão de que é preciso mudar tudo logo é deletéria. É preciso começar por aquilo que está na minha frente, pelas pessoas assim como elas são e depois, aos poucos, entrar no mérito das coisas. Papa Francisco diria que é preciso abrir novos processos e não ocupar espaços. Existe a tentação de exercer o próprio poder, mas o verdadeiro problema consiste no fato de que é preciso que cada um se torne sujeito de uma mudança. Por exemplo, certa vez fui chamado como consultor em uma grande empresa e no final do curso que administrei uma pessoa com três filhos veio me cumprimentar. Sendo que já eram seis da tarde pensei que tal pessoa, após o curso, iria pra casa ficar com os filhos mas ela me disse que precisaria trabalhar até ás oito da noite porque naquela empresa, quem saísse antes das oito era mal visto. Mas por que, me perguntei, acho que é mais importante o que uma pessoa consegue fazer em oito horas do que passar dez na empresa! Depois entendi que, naquela empresa, existia uma cultura que valorizava mais o tempo trabalhado do que o conteúdo realizado. Sendo que, na minha opinião, isso é totalmente deletério, verifiquei se a situação era assim mesmo e, sendo que de fato era assim, peguei o elevador, fui no último andar, no CEO da empresa e lhe disse: “hoje de manhã eu entrei na sua empresa e sendo que todos os escritórios são de vidro, com um rápido olhar, entendi que não existe uma grande paixão pelo trabalho. – isso é obvio, pois quem chega às oito da manhã e sabe que precisa ficar até às oito da noite começa a ler jornal – Você portanto tem duas opções: ou o nosso relacionamento acaba aqui ou vamos começar a trabalhar juntos para mudar a cultura da empresa pois como está, você mortifica as pessoas que trabalham com você inutilmente e tolera ineficiências”. Depois deste episódio começamos a trabalhar juntos e acredito ter alcançado alguns resultados pois os funcionários começaram a sair mais cedo, o faturamento cresceu e até mesmo o lucro, que é importante, cresceu. Mas isso é apenas um exemplo de que é possível mudar. Para que uma mudança ocorra, todavia, é preciso tempo e, neste aspecto, a fé nos diz que aquilo que acontece não é casual mas tem um sentido. A fé também nos diz que não estamos no mundo ao acaso, que somos queridos, que temos uma certa inteligência, um desejo e que é preciso que nos lancemos na realidade que está na nossa frente com tudo isso. Enfim a coisa mais bonita que a fé é que ela nos diz que não somos definidos por aquilo que conseguimos fazer, pois até mesmo um insucesso que possa vira a acontecer pode ser um passo importante para que nos tornemos aquilo que de fato somos. Ou seja, o trabalho não é uma definição de você mas sim uma expressão de você, é a modalidade com a qual crescemos e mudamos, é o lugar onde a sua mudança se torna relacionamento com os outros e, por sua vez, os outros também podem mudar com você, te provocam e são provocados. É um diálogo, nem sempre fácil mas, se vivido desta forma, sempre útil pois não te faz perder tempo. Até mesmo quando alguns conflitos se estendem por algum tempo, no final das contas, algo sempre muda. Sem fé não é possível ser autênticos de verdade pois há sempre algo a ser defendido, até mesmo com a fé é difícil ser autênticos mas, sem ela, é impossível. Só a fé diz que o valor de cada um de nós não prescinde de nada. Isso dá uma força enorme, até mesmo na hora de enfrentar situações difíceis. Alguém até o faria por heroísmo mas aquilo que sem a fé é impossível é a perseverantiam in bonis operibus (perseverança nas boas obras). Sempre me impressionou o Papa quando durante a benção de Páscoa e Natal, a Urbi et Orbi, ele reza pela perseverança nas boas obras ou seja, na capacidade de continuar permanentemente em um empenho positivo. Vi muitas vezes na vida grandes iniciativas heroicas: precisamos mudar o mundo! Precisamos mudar a empresa! Precisamos fazer novos produtos! É muito raro ver pessoas que tenham perseverança nos propósitos, diálogo contínuo, capacidade de mudar com o tempo pois a perseverança nas boas obras, sem a certeza de uma positividade última, seria impossível pois, aquela realidade, ou é de alguém que te a da, minuto por minuto, segundo por segundo, ou você se torna escravo daquilo que acontece. E digo mais, se você acha possível vencer com o poder, ou melhor, com aquilo que você tem de poder, no fim das contas você se torna ainda mais escravo pois te falta um critério para enfrentar a realidade e portanto você começa a padecer.

               Pergunta: concluindo você dizia que a fé dá uma certa liberdade no enfrentar o dia a dia; mas como não se paralisar diante do medo de perder o emprego, de fazer alguma coisa errada sendo que grande parte da minha vida depende do trabalho? É como se de um lado tivesse essa coragem, esta liberdade de enfrentar as coisas e do outro tivesse um vínculo tão grande tão importante com o trabalho que é como se paralisasse essa sua liberdade.

               Bernhard Scholz: é claro que todos nós podemos ter medo em alguns momentos, é normal, eu também tive medo em certos momentos de mudança. Então, o que o medo te diz? Que existe algo que não está mais nas suas mãos, o medo é um sinal de que poderia acontecer algo que você não desejou. Existem portanto duas possibilidades: ou a questão é absurda ou você se encontra nas mãos de um outro. Porque o medo por si só não é um mal, mas como você disse ou o medo te paralisa ou ele te abre. O medo é um sinal que a realidade, assim como ela é, é mais forte que você. A realidade até poderia não te dar o esperado... porque algumas vezes para ficar diante da realidade é preciso ser um pouco mais elementar, principalmente nos momentos dramáticos da vida pois nestes momentos não podemos dizer, mas, talvez... não! Nos momentos mais dramáticos da vida, como poderia ser uma doença, ou em geral, cada vez que chega o medo, surge a pergunta: mas eu quem sou? Ou melhor: de quem eu sou? Vocês sabem que a um certo ponto Dom Giussani disse: “Eu sou Tú que me fazes”; eu repeti isso durante anos de forma abstrata, eu repetia e pensava: “é justo, intelectualmente falando não existe alternativa, eu não me criei sozinho portanto existe um outro que me fez”. Isso é lógica, não temos dúvidas quanto a isso! Até que em uma circunstância muito difícil eu disse: “eu sou Tú que me fazes agora, nesta circunstância, neste momento”, e este foi um dos momentos mais libertadores da minha vida. Porém vou logo acrescentando um problema... existem momentos na vida, e geralmente são aqueles nos quais se tem muito medo, nos quais não se tem medo por si mas porque se sabe que a situação pode ter uma repercussão sobre esposa, filhos, parentes, amigos... Nesta situação o medo se eleva ao cubo, porém, é neste momento que você entende que querer bem a sua esposa, a seus filhos, a seus parentes e amigos é para que se compreenda que não se pode garantir o bem último. Eles também são feitos, naquele momento, por um outro, e, com esta consciência, se começa a olhá-los de uma outra forma: livres e criados. A vida deles não está nas suas mãos como você gostaria, mas eles também são de um outro. Só é chamado a dar tudo aquilo que se pode dar a eles mas não se pode dar tudo. Só podemos dar todos nós mesmos, na verdade somos chamados a dar todos nós mesmo mas, de novo, não se pode dar tudo! E estas são provas dadas para aprender a fé, mesmo se é doloroso se entende que somos mais livres. Eu penso que existem momentos pelos quais ninguém quer passar na vida, mas se vividos com fé, permitem passos importantes. Para podê-los viver com fé, todavia, precisamos de amigos, e o amigo não é aquele com o qual você conversa muito, por exemplo, neste momento difícil pelo qual passei, penso não ter conversado com ninguém. Não me interessa muito ficar falando sobre certas coisas mas sei muito bem que se não existissem pessoas para as quais eu pudesse olhar, aquele momento, teria sido muito complicado. Depois quem quer falar pode falar, não é que seja proibido! Mas o que me interessa dizer é que aquilo que te ajuda, o testemunho que te ajuda, não precisa ser necessariamente aquele com o qual você discute o seu problema. Mesmo pelo fato de que existem desafios na vida sobre os quais não podemos conversar com ninguém, a não ser com Deus, mas, o fato de enfrentá-lo com sensatez depende de que existam outros. Já aconteceu com vocês de se encontrar em uma situação difícil e se lembram de uma pessoa? Na minha vida existem pessoas que são testemunhos para mim e com os quais conversei apenas uma vez, por acaso, não troquei mais do que duas palavras mas percebe-se que são pessoas na vida das quais quem age é um outro. Além do mais, tais pessoas, nem precisam ser simpáticas pois o testemunho consiste apenas no fato de que, naquelas pessoas, fica evidente que quem age é um outro. É por isso que um delinquente pode ser um testemunho muito maior do que alguém que leva uma vida normal, pois é fácil entender que aquela pessoa mudou de uma forma não humanamente explicável. A verdade é que no fim das contas temos uma ideia burguesa do testemunho... acredito que Zaqueu deveria ter sido uma pessoa antipaticíssima, ele foi um mafioso. Poderia até ter sido bom para quem tinha simpatia pelos mafiosos, mas o problema é que um testemunho não é uma categoria de correspondência humana imediata, mas o fato de entender que acontece algo que não pode ser reconduzido apenas a fatores humanos, algo que usa dos fatores humanos para se manifestar. Quem é casado a algum tempo entende bem que está fazendo algo que vai além das próprias forças, e por isso até nasce uma gratidão, pois você entende que o seu limite não é a última palavra na sua vida. Mas tínhamos que falar do trabalho portanto, vamos voltar ao trabalho!

               Pergunta: eu teria uma curiosidade, pode nos ajudar com alguns exemplos a entender de que forma a fé desperta a criatividade? Outra coisa, você falou do relacionamento... me parece que entre nós, as vezes, mesmo diante das exigências mais simples não se têm como primeiro instinto o de procurar alguém que ajude: cada um tenta fazer o próprio caminho com ou sem sucesso mas não existe este instinto de procurar alguém. Me parece que as duas coisas, a criatividade e o procurar ajuda tem a ver... ou seja,  procurar ajuda para sair da própria visão restrita, entrar em relacionamento com alguém são todas coisas que ajudam a criatividade! Não é assim?

 

               Bernhard Scholz: é decisivo que o problema que você tem se torne pergunta, este é o ponto fundamental! Mas precisa ser uma pergunta que abra, quer dizer que ajude a entender as perspectivas, as alternativas... enfim, o importante é não se fechar pois, normalmente, um problema fecha. E qual é o sintoma que o problema nos fecha? O fato que se culpa uma outra pessoa: se se perde o trabalho a culpa é da política, se alguém fala mal de você, você encontra um álibi e diz que essa pessoa... enfim, normalmente um problema fecha. O fato que este problema se torne uma pergunta já é sinal de um mínimo de fé e é isso que te torna criativo. É a pergunta que torna criativo pois a partir do momento que tenho uma pergunta entro em um diálogo criativo com a realidade. Também do ponto de vista do trabalho: todos os tipos de inovação começam com uma pergunta, as mudanças de uma empresa começam com uma pergunta, tudo aquilo que é criativo começa com uma pergunta, não com uma pretensão. A pretensão é um fechamento, ela diz: eu penso que isso deve acontecer e ponto final. Como esta pergunta de que falamos se torna explícita é um segundo passo. Se eu procuro trabalho ou se não consigo resolver um problema na empresa seria burrice não pedir ajuda aos outros portanto, que estas perguntas se tornem explicitas está na natureza das coisas. Porém, na vida de uma pessoa, também podem ocorrer problemas onde a pergunta, por certas circunstâncias, não pode se tornar explicita. A pergunta permanece forte mesmo se eu não a ponho para os outros e com esta pergunta se olha para os outros de uma forma muito diferente, muito mais intensa. Por exemplo, se você acha que está com uma doença muito grave mas ainda não tem certeza, você não vai sair por ai discutindo isso com os outros mas, naquele momento, você começa a olhar para os outros de forma diferente. Olha para cada um com uma grande pergunta, olha nos olhos dos outros com a pergunta: por que vale a pena viver? E irá perceber que pessoas com as quais você nunca falou podem te dar respostas. Porem me interessava muito mais o fato de que a vida quando te coloca diante de um problema de qualquer natureza ela tende a te paralisar, te escravizar, e você fica nervoso, se coloca na defensiva, e ali o relacionamento com os outros te ajuda de fato a não perder a fé e de reabrir a realidade que está na sua frente. A verdadeira questão é como você olha para a vida que você tem. E quanto mais uma pessoa a olha para a vida com esta curiosidade verdadeira, sã, quanto antes ele encontrará uma resposta. Até mesmo quando uma situação não pode mudar – e eu conheço pessoas que passam por situações irreversíveis – acontece o que chamamos de milagre ou seja que a pessoa muda. Acontece que pessoa descobre, diante de uma situação que ela não pode mudar, uma liberdade tal que a pessoa muda e a sua mudança se torna mudança de todos. Nós todos somos orientados para o fato de que quando se há um problema é preciso que as condições mudem, e é justo que seja assim, mas se as condições não mudam isso não quer dizer que seja o fim pois pode ser que as circunstâncias peçam a você de mudar. Existem pessoas que vivem situações muito complicadas, e muitos destes chegam até mim. O primeiro sentimento que tenho é de completa impotência, quase uma angustia, pois eles vivem uma situação muito difícil que não consigo mudar. Se faz aquilo que se pode, mas não temos o poder de mudar, é assim. Porém, fiquei muito surpreso descobrindo que o relacionamento que eu estabeleço com estas pessoas, mesmo se a situação não muda, é importante para eles. Eu sempre pensei que se eu não pudesse ajudar a mudar seria inútil mas então porque ele vem até mim? Eu não posso fazer nada! Com o tempo aprendi que o fato de se encontrar e conversar com estas pessoas poderia ser muito importante para eles, por todas as razões que disse antes. Tenho que dizer que das primeiras vezes fiquei de fato admirado. Este fato inclusive me obrigou a refletir sobre mim pois percebi que, muitas vezes, os relacionamentos que aparentemente não me mudam nada, são de fato muito importantes para mim pois me obrigam a mudar. Vou dar um exemplo simples, dos doze à dezanove anos morei em um internato – podem ficar tranquilos porque eu estava muito bem, todos ficavam com pena pensavam que era como cadeia mas eu fiquei muito bem – e tive um professor muito difícil, era uma pessoa muito complicada e não tínhamos um ótimo relacionamento. Porém entre todos os professores que tive até hoje, ele é uma pessoa a qual penso muito. Era um monge, como todos os outros no internato, mas ele também tinha sido um grande cantor, muito famoso, ele tinha uma voz fantástica, fazia cantos gregorianos, gravava discos e tal... porém, certo dia, ele teve uma doença na garganta e não conseguiu mais sequer falar. Depois de um tempo ele chegou a fazer um curso para recuperar mas, mesmo assim, falava com muita dificuldade. No começo ele sofreu muitíssimo, porém, devido a aquele fato, ele se tornou um professor da vida. Como ele falava da literatura depois do ocorrido era um espetáculo e sem esta doença ele não teria falado assim da literatura. Uma pessoa pode até dizer, é um limite... mas para nos estudantes foi um dom imenso! Este é um exemplo, a questão é que ele viveu isso como uma grande pergunta, essa pergunta com certeza o levou a Deus, mas ele também fez esta pergunta para todos os autores e releu cada autor de uma forma completamente diferente conseguindo extrapolar de cada um, uma humanidade que não era evidente, ou seja, ele entrou em diálogo com eles. Diálogo que também se tornou diálogo para nós alunos e para mim foi uma grande ajuda. Tudo isso era só para dizer que uma pergunta pode ser implícita ou explicita, o importante é que seja uma pergunta! Forte! Existem perguntas que se impõem e outras não. Só para dizer, em um mosteiro não se fala e mesmo assim, entre alguns deles, existiam um afeto muito profundo. Acho que estes monges conversavam entre eles três vezes por ano. Para uma vida normal isso é inimaginável! Mas até entre marido e mulher, existe um diálogo que não exige um falar constante e mesmo assim há muito entendimento, até mesmo entre amigos é assim, se olham e se entendem. Porque eu acredito que uma pergunta, mais que uma pergunta, é uma atitude na vida: como você se coloca?

 

               Pergunta: eu tenho uma pergunta que surgiu duas semanas atrás, quando fiz uma viagem com a minha empresa em ocasião de um grande evento anual da minha divisão. Neste evento foi definida a missão do meu grupo que foi: reinventar a produtividade no mundo para que as pessoas sejam mais, façam mais e criem mais.

               Bernhard Scholz: para qual empresa você trabalha?

 

               Replica: Microsoft, são doze mil pessoas na minha divisão e naturalmente trouxeram um palestrante de fora que pudesse ajudar neste momento no qual precisávamos nos reinventar. Em um certo momento, este palestrante começou a apresentar diversos problemas que o mundo estava resolvendo, falou de inteligência artificial, das conexões de rede e convidou todo mundo a se colocar a pergunta: “qual é o grande problema que eu quero resolver agora?” e nos incentivou a termos a mesma pretensão que as pessoas que pensaram em pisar na lua pela primeira vez tiveram. Planos grandes! Porque naturalmente a empresa não vai em nenhum lugar se você tem pequenas ambições. Tirando uma parte puramente motivacional, eu fiquei me colocando essa pergunta, de verdade o que me interessa e o que me é mais importante? Pensando sobre isso a minha resposta foi: o encontro que eu fiz é a coisa mais valiosa que eu tenho então e se eu pudesse contribuir com alguma coisa gostaria de contribuir com isso. Neste momento começou a surgir na minha cabeça uma um dilema: a tecnologia, o meu trabalho ou o que eu posso fazer pode contribuir de alguma maneira para Cristo no mundo ou são coisas que estão sempre em dimensões separadas e, no fundo, meu trabalho é apenas uma desculpa para uma outra coisa que acontece? Ao mesmo tempo eu não quero cair em um cesaropapismo tecnológico de achar que a tecnologia tem uma pretensão de fenômeno humano.

 

               Bernhard Scholz: mas o que você acha que as pessoas que limpam esta sala pensam a respeito da sua pergunta? Quem limpa esta sala começa por se dizer: “eu tenho que limpar esta sala porque preciso ganhar dinheiro para não morrer de fome”, portanto este trabalho se torna expressão do seu desejo de viver. Esta seria a coisa mais simples e já é boa. Mais a frente podem dizer: “eu limpo esta sala para que as pessoas que vem aqui possam ficar bem, confortáveis, e portanto eu a limpo bem”. A coisa mais importante na vida, ainda mais se você deseja viver na fé, é que aquilo que você faz esteja em relacionamento com. Aquilo que nasce deste relacionamento não está nas suas mãos. Eu conheço uma pessoa que durante toda a vida só limpou verduras para uma cozinha, não cozinhava, só descascava verduras, e é uma das pessoas mais extraordinárias que eu já conheci pois descascava as verduras em relacionamento com Cristo. Por um acaso a vida de um doente vale menos que a do presidente dos Estados Unidos? Acho que não, pois não é tanto aquilo que fazemos que define a incidência que temos no mundo. Eu sempre disse que estou convencido de que eu só consigo fazer algo de bom na minha vida porque alguém, neste momento, está oferecendo suas penas para a salvação do mundo e eu sou apenas usado como instrumento para a realização. Quem faz a história é Cristo, não sou eu! E Ele a faz com quem quer viver com Ele, em um mundo que não podemos compreender, que é misterioso. É portanto preciso que eu viva o que tenho que viver com Ele e para Ele, isso é o que conta, viver com Ele e para Ele prescindindo daquilo que se faz.  Quem vive assim tenta trabalhar da melhor forma possível... depois existem pessoas que fazem um trabalho que torna o que estamos dizendo um serviço mais visível, mais imediato. Quem cuida dos doentes por exemplo, quem dedica a própria vida a Cristo, quem faz missão para testemunhar a fé de forma explicita. Isso depende... no mais a vida é uma vocação, eu não sei para o que Cristo está te chamando. Tento entender o que ele pede para mim! A vida é uma vocação: nós somos chamados à algo, e você é chamado a viver ali. Acho que o importante é que você entenda de fato o trabalho que faz, no sentido de fazê-lo bem. Sobre a pergunta que você tem é preciso que você de fato a viva como pergunta pois a pergunta está correta e acredito que se você a vive da forma certa, com o tempo, você também encontrará a resposta. Não acho que você deveria viver esta pergunta com a finalidade de encontrar o software para o vaticano. Digo isso porque existe o risco de conceber o que estamos dizendo de uma forma um pouco clerical. É preciso que você viva o seu trabalho com todo o seu desejo humano, é preciso que você viva bem o seu trabalho pois assim poderá contribuir para ajudar outros a achar trabalho: se você faz bem o seu trabalho a empresa cresce e cria novas ocupações... quero fazer um exemplo drástico, todos vocês sabem que existem crianças que morrem de fome no mundo e pessoas que vão nestes países para ajudar. Com isso a gente encontra fotos por ai destas pessoas que que dão o leite de beber para estas crianças, e para nós isso é um ato heroico, eles vão lá e levam o leite para estas crianças. Porém vamos nos pensar em uma coisa: para que este leite possa ser entregue naquele momento, para aquela criança, também foi preciso de alguém que trouxesse o leite, alguém que pensasse na logística, nas geladeiras, alguém que ordenhasse as vacas, quem transformasse o leite em pó... ou seja são necessárias muitas coisas para que isso aconteça. Não podemos portanto olhar somente para o ato de entrega do leite porque vimos que existe uma grande interdependência. De forma geral, se você faz um bem, só é possível que você o faça porque muitos outros, de alguma forma, diretamente ou indiretamente, te ajudaram. Assim como diferenciei o explicito do implícito, gostaria agora de diferenciar o que é imediato do que não é imediato pois as coisas nunca são tão diretas quanto se pensa. Suponhamos que queiramos fazer algo excepcional na nossa empresa mas não o possamos fazer, oferecendo este sofrimento pelos cristãos perseguidos, podemos ajudar um sírio mais do que estando ao seu lado. Temos uma ideia de comunhão como se fosse algo abstrato, mas somos muito mais ligados do que poderíamos expressar fisicamente, nós dois somos uma só coisa. Aquilo que você vive tem a ver comigo, mesmo se agora temos dificuldade de entender como. Não é possível que eu sou de Cristo, você é de Cristo e depois, aquilo que você faz e aquilo que eu faço não tem nada a ver um com o outro. Nós temos a ver um com um outro! A nossa incidência tem um aspecto imediato que é visível, mas também existe a incidência de cada um na história que não é tão imediata. Se não por que rezaríamos uns pelos outros? Seria absurdo se não existisse um nexo. Da mesma forma, o trabalho também é uma oração. Sejamos sinceros conosco, quem, em última análise, não vive o próprio trabalho para a sua família, para o mundo, para os cristãos perseguidos, para os doentes... todos o vivemos assim. Enquanto faço esta garrafa por exemplo, a fadiga e a intuição que eu coloco movimentam a mim assim como a realidade. Esta garrafa se torna o item através do qual eu entro em relacionamento com a construção do mundo e a minha dedicação para fazer bem esta garrafa vai infinitamente além desta garrafa na condição que eu viva a construção desta garrafa com a consciência de que enquanto eu estou fazendo isso eu estou em relacionamento com o infinito. Enquanto eu faço a tampa eu sou tu que me fazes! Então, esta garrafa se torna o meu eu em relação com o infinito, ou melhor, o infinito em relação comigo. Eu até o posso esquecer mas Ele não se esquece de mim. Enquanto vivemos, fazemos coisas, comemos, dormimos, nos esquecemos, pecamos, somos sempre, segundo por segundo, relacionamento com quem nos faz. Esta é a origem de todo o significado. Mais eu reconheço isso mais se torna indiferente se eu lavo os pratos ou faço uma grande declaração. A única coisa sobre a qual eu insisto é que Deus nos coloca diante esta realidade, então é preciso que eu siga esta realidade, pois como diz o cristianismo: “esta realidade me é dada para viver um relacionamento com ele”. Este aspecto é unicamente cristão pois todas as outras religiões dizem que você não deve viver a realidade, que você precisa se destacar da realidade. Até o new age diz isso pois ele não parte da realidade, o new age quer que você consiga gerenciar a realidade, quer que você consiga gerenciar a sua vida de forma que não ajam muitas feridas, que não ajam muitos sofrimentos, ou seja, é uma forma de gerenciar o mundo de forma destacada. O cristianismo por outro lado, te joga dentro da realidade pois te diz que é preciso que você entre ao cem por cento.  O cristianismo diz que você não depende disso, mas que é ali, dentro da realidade, que você descobre do que é feita a realidade que você toca, se você não entra na realidade, você não consegue descobrir quem a faz! No que consiste a genialidade de Dom Giussani? Ele diz, viva intensamente o real! Sem o cristianismo, esta é uma frase que te mata. Sem Deus presente a realidade te mata! Marx tinha perfeitamente razão: sem Deus tudo é alienação! e Nietzsche também tinha razão, Sartre também, todos eles tinham razão, porque sem Deus o outro te mata, a não ser que você o mate antes. Chega um ponto que a vida te coloca diante destas coisas e só não se torna tão dramática porque temos a capacidade de viver com uma tremenda superficialidade. De fato, as pessoas que não conseguem viver com esta superficialidade, seja por feridas psicológicas ou por feridas de diversa natureza, enlouquecem, não conseguem viver pois realidade é tão dramática que te mata. Então é preciso que você viva intensamente o real que está na sua frente, se você se pergunta porque eu estou aqui e você o vive como pergunta então você o descobre, mas é preciso que você o viva com uma pergunta pertinente a realidade pela qual você está passando e não algo que você impõe de forma clerical a aquela realidade ou a você mesmo. Não podemos ter o problema de impor algo à realidade, precisamos deixar ela falar. Muitas vezes, como cristãos queremos impor algo a realidade quando na verdade temos que deixar ela falar. Nós não devemos impor algo aos nossos colaboradores, mas precisamos deixar que os nossos colaboradores falem, e se eles não conseguem entender então é preciso que eu lhes faça perguntas para ajudá-los. Não posso impor algo a alguém, só posso ajudar alguém a se fazer as perguntas certas. E se cada um conseguir se fazer perguntas sempre mais inteligentes, com o tempo irá descobrir. De fato a única coisa que posso dizer no seu caso é: tenta olhar para aquela realidade e se pergunte quais são as coisas nas quais você encontra uma consonância mais imediata. Depois é preciso que você siga aquela consonância. Também não se impressione muito pelas não consonâncias que você enxergará. Isso é importante pois cada trabalho sempre apresenta uma série de limites e muitas vezes deixamos nos impressionar por estes limites nos concentrando neles limitando assim a procura do que nos corresponde. E ali que nasce toda a criatividade que dissemos. Porque a criatividade não é um golpe de gênio mas a perseverança na pergunta. Agora vou dizer uma última coisa depois chega. Falo isso por experiência própria. Tudo aquilo que eu disse faz entender que uma das dimensões mais importantes na vida é a fidelidade a aquilo que você encontrou, a aquela grande promessa que encontrou. Não sei vocês mas eu muitas vezes me descubro infiel, ou seja que eu estou muito longe desta fidelidade mas, por outro lado, temos porem um grande dom. Durante anos fiz o trabalho de me dizer: “você precisa ser mais perseverante, mais fiel na oração e tal...”, fiz um grande esforço sobre mim e isso não me levou a lugar nenhum. Na verdade só precisamos nos lembrar! No momento em que nos damos conta de nossa distração e apenas preciso lembrar que durante todo o período no qual não fomos fieis um outro nos foi fiel. Só assim podemos perceber que, de fato, nossa força é a fidelidade d’Ele. A presença d’Ele na sua vida não diminui porque você não fez memória e é assim que nasce a consciência de que não é pelas nossas forças mas sim pela gratidão d’Ele que se começa a crescer. Isso é, para mim, o fundamental, porque não devemos pensar que vamos alcançar estas coisas nos esforçando mas sim reconhecendo o que nos é dado até mesmo nos momentos nos quais não o reconhecemos. Digo isso sobre o trabalho porque, geralmente, vivemos o trabalho como uma grande distração, principalmente nos momentos de grande fascínio pelo trabalho. Porém não é preciso que nos desesperemos por isso, só precisamos dizer, naquele momento no qual nos distraímos, que essa coisa me foi dada por alguém que pensou em mim e com essa gratidão podemos ir para frente e, aos poucos, iremos viver com sempre menos distração e mas gratidão. No final até começaremos a ser gratos por momentos difíceis, não porque você os queira, mas porque você entende que te fazem crescer.

Companhia das Obras – Brasil

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